São Tomé , Agosto 2007 - Amigos do Mindelo em África
Publico aqui o relato da nossa aventura em terras africanas, cheio de peripécias...
S.Tomé
Após 500 e tal anos da descoberta de S. Tomé por João de Santarém e Pedro Escobar (há quem diga que podem não ter sido estes os navegadores que lá atracaram primeiro…) um grupo de amigos dos Amigos do Mindelo foi até lá durante uma semana para compreender e talvez sentir, aquilo que alguns chamam o apelo de Africa. E, após uma viagem de 6 horas, o Ricardo, a Sofia, o Carlos, a Clara, o José Alberto, a Maria José, a Madalena, a Isabel Rute, a Inês, o Luís, o Alberto e a Rute, acordaram do seu sono reparador no avião da TAP que os transportou, para apreciar o extremo nordeste da ilha, local onde se encontra o aeroporto. E após uma aterragem abortada devido a algumas cabras na pista seguida de outra bem sucedida, e após as morosas burocracias alfandegárias, eis que nos sentimos, finalmente, em S. Tomé.
A travessia da cidade pela orla marítima da ampla baía Ana Chaves, é deveras bonita, sendo visíveis edifícios ainda regularmente conservados que datam do período colonial. Passámos a zona piscatória do Pantufo, verdadeira desorganização de pessoas e carros e rumamos a Sul, para nos instalarmos em Santana, cidade de beira mar, um misto de ruralidade e de mar, com as típicas casinhas de madeira sobre estacas, com os botequins minúsculos, igualmente de madeira, onde se vende peixe, óleo, frutos, roupa, e tudo o que possamos imaginar, incluindo os que vendem combustíveis armazenados em garrafões de vidro ou os que são sede duma agência funerária.
O que caracteriza o povo de S. Tomé é a simpatia, a ociosidade e a indolência. Efectivamente pudemos observar que em toda a parte existe imensa gente, sobretudo crianças e às vezes mulheres acarretando lenha ou lavando roupa, mas a maioria apenas esperando a passagem do tempo à beira da estrada numa atitude aparentemente contemplativa. Mas ao mínimo sinal de convívio ou de ajuda, mostram-se extremamente prestáveis. É igualmente característico o tráfego caótico, os carros amolgados, o deixar correr, o esperar que alguém resolva, o convívio social em grupos mais ou menos homogéneos (portugueses, franceses, são tomenses).
Além de apreciarmos a praia, o calor e o mar, contactámos também com as pessoas dum modo muito informal e próximo durante os nossos passeios:
No dia da chegada, Sábado, fomos á capital fazer compras, cambiar dinheiro, visitar o mercado, o café Miramar (ponto de encontro de muitos residentes) e quase nos sentiríamos em Nova Iorque se tivéssemos olhado apenas para os táxis – são igualmente inúmeros, amarelos e imensamente utilizados como meio de transporte público.
No Domingo, passeio a pé através da mata envolvente de Santana, observando e fotografando a flora local: fruta –pão, cocos, bananeiras diversas. Depois, visita à roça mais próxima, chamada Agua Izé, outrora uma das mais importantes, agora um local de habitação para centenas de pessoas, o hospital da roça com sinais de evidente decadência o qual parece que irá ser transformado em Hotel, e gente, muita gente. Uns dos armazéns e a antiga estufa estão cuidados e pintados de amarelo, com os tapetes de secar cheios de cacau ao sol, sinal de como teria sido a roça há 30 anos atrás. Um pulinho à Boca do Inferno, cujo mirante arruinado permite admirar aquela garganta rochosa onde o mar entra com toda a pujança e mais adiante, naquela orla costeira com palmeiras e coqueiros a emoldurar as pequenas praias, a praia das Sete Ondas onde vivem inúmeros caranguejos azuis e laranja que nos brindaram com a sua fuga para as tocas na areia.
Na Segunda–Feira fomos ao Ilhéu das Rolas, após uma viagem que apenas foi longa porque as estradas não ajudam e os jeeps também não: um furo, uma avaria que obrigou a regresso em táxi, ou seja, uma carrinha com passageiros que partilham um mesmo transporte, embora a viagem seja apenas o elo comum entre eles. O Ilhéu valeu a pena pela paisagem, pela travessia de barco sem qualquer enjoo, pela estadia em plena linha do Equador, pela aventura da viagem no seu todo cheia de peripécias, e pela proximidade do Grande Cão – enorme rochedo que se eleva no sul da ilha, de difícil acesso e recoberto de vegetação e que se distingue de outras elevações circundantes pela sua forma fálica. E o passeio valeu por nos permitir apreciar melhor os recantos paradisíacos e os locais mais inacessíveis e menos habitados da ilha, abarrotada de características naturais para se desenvolver turisticamente.
Na Terça–Feira: visita a Monte Café, Pousada da Boa Vista, Jardim Botânico (com o acompanhamento do Sr. Francisco, agrónomo) junto ao Parque Obô, Cascata de S. Nicolau, e roça Bombaim. As estradas desta vez foram terríveis, e, findo o dia, algumas equimoses e cansaço aos solavancos se deveram. A roça Bombaim é um oásis no meio da selva; fica em plena floresta tropical, com a fauna reptidia própria (a cobra negra, de mordedura mortal em 6 horas, existe mesmo…) cuja existência, felizmente, não pudemos confirmar; está transformada em Hotel Rural de Charme que pudemos visitar e das varandas da casa, não é difícil deixar a mente divagar ao olhar para aquele pequeno planalto verde, rodeado por uma série de elevações montanhosas, cheiíssimas de vegetação aparentemente impenetrável.
Quarta–Feira: dia dedicado a descanso e leitura, observação do fundo do mar e passeio ao ilhéu Santana, em frente à praia. A ida ao ilhéu é imperdível! Aquele rochedo visto de longe oculta o seu encanto: a vegetação, as garças (a branca e a negra) voando juntas, o «rabo de palha», o mar azul forte, a gruta (coração do ilhéu) cujo acesso apenas é possível com marinheiros experientes e os jactos de água saídos sob pressão debaixo do ilhéu que o mar fustiga constantemente. Ao cair da tarde, fomos a S.Tomé para visitar a cidade e apreciar os seus monumentos: o Palácio do Governador mesmo defronte á baía Ana Chaves, onde decorria uma recepção, a Igreja Matriz, o render da Guarda, o Forte, e a avenida junto ao mar.
Quinta-Feira: passeio ao Norte com passagem por Guadalupe, rumo a Santa Catarina. Visitámos a roça Ponta Figo e a de Diogo Vaz, esta última, sede dos movimentos de rebelião armada que precederam a independência. Depois, visita da imponente roça Agostinho Neto (outrora Rio do Ouro), com o seu grandioso hospital agora em degradação, tal como quase todos os edifícios da maioria das roças. Visitámos o Jardim e as instalações da antiga Pousada da roça, acompanhando as explicações do Sr. Francisco, um agrónomo local que cuida das plantas e jardins preservando-as do vandalismo e aspirando a melhores condições locais. Ao fim da tarde, ainda visitámos o Museu situado no Forte, com salas dedicadas a elementos de arte sacra e outras, demonstrativas da vida nas antigas roças.
Sexta-Feira: passeio a S.João de Angolares e visita à roça S. João. Esta encontra-se adaptada ao turismo, e na sua varanda, pudemos apreciar, não só a paisagem como um magnífico almoço, e para alguns, uma soneca na rede…
Uma semana passada demasiadamente depressa, da qual quero esquecer as avarias dos automóveis, (na generalidade gastos e mal cuidados), a confusão do aeroporto com tantos garotos a pedinchar, e a doentia ausência de vontade em reparar construções (casas, estradas e pontes).
E quero apenas continuar a recordar a imensa riqueza daquele pedaço de terra, cheia de frutos e de peixe, a doçura do olhar das crianças, o seu «doce-doce?» (não concluímos se é apelo ou cumprimento), o imenso jardim de verdes do interior, a saborosa gastronomia (o rancho, o calulú …) presenteada pela D. Teté, o «leve-leve» tão característico dos ilhéus e, para sempre, a amizade dum grupo que soube conviver em harmonia durante esta viagem. Será isto a milonga?
Rute S.
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