2007-01-28

Relato do passeio a Corno do Bico, 27 de Janeiro 2007

“Os tesouros só trazem felicidade se forem partilhados”
In”A Floresta”, Sophia de Mello Breyner.

“Era uma vez…” Assim podia começar a história deste dia…Um dia cheio de pequenas histórias…todas elas com um “final feliz”.
Dia 27 de Janeiro, sábado, oito horas e trinta minutos, um céu azul, um sol fantástico e uma temperatura que obrigava a um aconchego suplementar do cachecol, gorro e luvas.
Na Praça Luís de Camões, onde os amigos se reuniram, a caminho do trilho em Corno do Bico, a estátua de Francisco Sá Carneiro carregava uma prancha de surf. Mesmo não parecendo ter qualquer intenção de se fazer às ondas do mar, talvez o cenário fosse um bom sinal para quem estava disposto a fazer-se às ondas da serra…
Na viagem, o Armando conduzia o carro… e também as conversas: das urgências do hospital, passamos às lâmpadas fluorescentes, aos computadores portáteis roubados na escola do Joaquim, às histórias de assaltos, às garças que se juntam na foz do Douro para partir… e daquela garça que decidiu ficar no Parque de Águas Santas e que a Iolanda de vez em quando visita. A Fátima, que tem uma Via Verde “portátil”, demonstrou ser uma “navegadora” atenta. Só lhe escapou o valor da nossa passagem por “100m” de auto-estrada, quando nos apercebemos que já estávamos de regresso, antes de termos chegado ao nosso destino…5 cêntimos que ainda temos de dividir pelos 5.
E, pouco depois de uma curva em que a Fátima reclamou e a malta de trás quase não respirou...e que o Armando assumiu ter sob controlo, lá encontramos os dois guias que nos esperavam. Ele falava e ela sorria…E a malta ouvia ...ouvia…ouvia…e já não sei se ouvia …Pois eu e a Sofia já desesperávamos por pôr pés ao caminho.
O guia era muito simpático, mas talvez um pouco técnico para quem por vezes se questionava se ele estaria a falar de uma árvore, ou uma ave. Ó Fátima, qualquer um sabe o que é uma briófita!!!
Vimos pássaros que o Ricardo identificou no seu manual da passarada, ninhos de esquilos, dois garranos, o fuçar no solo dos javalis e os cristais do frio da noite que se escondiam nas folhas e nas poças de água … Eu até consegui pôr toda a gente a olhar para um pedaço de plástico bolorento, quando pensei que podia ser um morcego. Mas nem tudo foi mau, pois consegui alertar a “especialista” Sofia para o cantar de um pica-pau…
Chegada a hora do almoço, enquanto recuperávamos as energias forrando as paredes do estômago, o Armando brindava-nos com um discurso sobre outras energias…as alternativas. A Maria José, o Zé Alberto e o Ricardo recordaram coisas “do tempo” do Zé, quando visitaram os Açores… enquanto a Madalena comia a sua mação assada.
Depois do almoço, deu-se o início da descida para o fim do trilho. Vimos, ao longe, a Serra Amarela (disse o guia) coberta de branco e o Parque Eólico.
Enquanto avançávamos nas “ondas da serra”, lembrei-me de uma história da Sophia de Mello Breyner - “A Floresta”…Era como se estivesse a caminhar no cenário do livro que li em criança…Só faltou encontrar um anãozinho. No final do passeio pareceu-me ter visto um, mas deve ter sido impressão minha…
Talvez tenha sido o Pedro que o assustou, quando decidiu entrar no trilho pela “porta dos fundos” 
Na chegada à aldeia, um rebanho de ovelhas pastava com as suas crias. Por poucos minutos, perdemos o nascimento de um cordeiro que ainda tentava erguer-se nas frágeis patas para conseguir alcançar o leite da mãe que, ainda com a placenta pendurada, pastava aparentemente calma.
Depois de uma pausa, sentados na “rotunda” da aldeia, chegaram os carros que nos levariam até Paredes de Coura.
Na chegada ao Museu Regional, depois de uma visita à história do linho, ao cultivo da terra e às descobertas arqueológicas da zona, lá fomos nós até à cozinha onde nos esperavam duas simpáticas especialistas na confecção de “Biscoitos de Milho”. Meter as mãos na massa e puxar as brasas aos nossos biscoitos …e os biscoitos às nossas brasas, foi uma actividade que nos ocupou uma reconfortante parte da tarde.
Durante esta actividade, o Armando e a Fátima tiveram de regressar, pois ele tinha de vir “pregar para outra freguesia”…Mais uma vez Armando, estou contigo 
O Ricardo não conseguiu resistir à proximidade de vestígios do povo castrense e levou-nos até ao alto do Castro de Cossourado. Mas deve ter-se esquecido de avisar dois descendentes dos habitantes do Castro que, surpreendidos com a nossa chegada, desceram a serra de “calças na mão”.
Habituados a vermos o sol esconder-se no mar, foi muito agradável vê-lo esconder-se onde habitualmente o vemos erguer-se… E eu tenho um fascínio especial pelo pôr-do-sol no Inverno...mesmo entre as montanhas.
O jantar foi na casa do Pai Natal, desta vez sem a “rena” 
No “Conselheiro”, o grupo, ainda empanturrado de biscoitos de milho, teve o merecido descanso e o abrigo do frio de uma noite gélida. O Sr. Vilaça Pinto foi um verdadeiro anfitrião, ou não se chamasse Pinto e não estivéssemos só lá nós… a comer muito bem.
No regresso vi, pela segunda vez, algo que nunca tinha visto…Também o Pedro tem uma Via Verde “portátil”… Será que esta é uma medida ecologista?! Acho que amanhã vou descolar a que tenho no carro 
Cristina Pinto


Igreja em Giesteira

Que frio ...

Fazendo biscoitos de milho...

Andando em Corno de Bico...